| CRÍTICAS | 28 Anos Depois

28 Anos Depois mantém-se como um dos melhores filmes de zumbis deste século (de sempre?), mas é em 28 Semanas Depois que há uma cena das cenas mais memoráveis da série. Logo a abrir o filme, Robert Carlyle e a esposa estão encurralados numa casa e ele tem que optar entre tentar salva-la ou fugir. Carlyle escolhe viver e aquele plano de Catherine McCormack, rodeada de mortos-vivos, a fitar-nos, nunca mais nos abandonou.

É uma cena dura, muito dura, que inscrevia na perfeição o filme de zumbis no realismo britânico (mas sem perspectiva, o que até é irónico tendo em conta que o filme inaugural do género é… um filme sobre luta de classes). E 28 Semanas Depois mantinha-nos a acreditar em Danny Boyle como o futuro do cinema inglês (sim, fomos todos optimistas ingénuos em determinados momentos das nossas vidas). Agora, 30 anos depois, Boyle (e Alex Garland, enquanto argumentista, ele que entretanto já deu o salto para uma carreira em nome próprio enquanto realizador) regressa ao franchise para completar a trilogia – plot twist: não ficará por aqui – e procura repetir essa fórmula, iniciando o filme com choque.

28 Anos Depois arranca assim sem pudores, ignorando por completo um dos tabus do cinema ocidental: a morte de criancinhas. Danny Boyle atira com um monte de zumbis contra um bando de gaiatos que assistem aos Teletubbies (uma pertinente âncora temporal para situar esse momento da história ali na mudança de século), numa carnificina brutal, que ainda termina numa metáfora religiosa gratuita (até porque depois não tem mais acompanhamento ao longo do filme). O problema é que é tudo estéril, temperado pelo estilo epiléptico (e insuportável) de Boyle, que faz com que não tenho um décimo do poder da abertura de 28 Semanas Depois. E isso é o mote para or esto filme, especialmente quando comparado com os seus antecessores.

28 Anos Depois são dois filmes num só. O primeiro é o coming of age de Alfie Williams, um miúdo que vive numa ilha isolada das Terras Altas escocesas, onde existe o costume dos jovens saírem para fazerem a sua primeira morte enquanto ritual de passagem à idade adulta. A primeira parte de 28 Anos Depois é então um filme de aventuras, bem simples na estrutura e minimamente eficaz.

Depois, na segunda, Alfie Williams parte com a mãe para tentarem encontrar um médico, que acaba por ser um Ralph Fiennes meio louco, tipo um capitão Kurtz mais dócil. E é aí que 28 Anos Depois começa a compremeter, até porque o argumento cede a esta longa duração e argumento meio derivativo e funcional. O vilão, um gigante mais forte e rápido com super-instintos paternais protectores, é uma beca banhada e também não contribui para ficarmos convencidos.

No final, essa segunda parte tenta ser uma bonita reflexão sobre a morte (enquanto estágio final da vida), mas nesse momento já estamos em modo who cares, satisfeitos por termos encomendado apenas um Double Cheeseburger para o almoço. E é essa dormência que nos faz não vomitar quando surge a cena final, que lança a futura sequela, com um bando de white trashers parkours(!) de que ninguém quer saber quem são.

Título: 28 Years Later
Realizador: Danny Boyle
Ano: 2025

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