No final de Split, que já era um filme bem acima da média da sua filmografia recente, M. Night Shyamalan tinha um golpe de génio. Em mais um twist imprevisível, o realizador fazia um crossover com O Protegido e criava o mais inesperado universo da Sétima Arte.
Por isso, Glass era duplamente ansiado. Primeiro, porque Shyamalan parece ter recuperado a boa forma, que em tempos o transformaram no the next big thing. E depois porque toda a gente queria ver juntos James McAvoy, Bruce Willis e Samuel L. Jackson.
Mas afinal de contas, o que tem em comum McAvoy e as suas 21 múltiplas personalidades (incluindo a meio-animalesca Besta), Bruce Willis e a sua força sobre-humana e Samuel L. Jackson, com a sua perspicácia acima da média? Ora, todos eles têm poderes acima dos níveis da população em geral, o que faz deles super-heróis. Ou será que tudo não passa de uma ilusão de grandeza dos três? Pelo menos, isso é o que acredita Sarah Paulson, que os fecha num hospital psiquiátrico para os tratar.
Shyamalan explora esta duplicidade – e uma certa ideia de predestinação – para reflectir, dissecar e desconstruir a mecânica e os signos da banda-desenhada. E, tendo em conta a omnipresença actual da Marvel e da DC na indústria cinematográfica, isso tem uma certa dose tanto de ironia quanto de pertinência.
Longe vão os tempos em que Shyamalan era apelidado de o novo Hitchcock, mas em Glass o realizador volta a manipular o suspense para nos deixar sempre na expectativa se o que estamos a ver é real ou não. Infelizmente, no fim, o filme decide não deixar nada em aberto além da mais que evidente possibilidade de sequelas futuras. Glass não só responde a todas as questões que vai criando ao longo do filme, como esclarece inclusive aquelas que não coloca. É certo que é melhor do que esperávamos (porque já não confiamos cegamente em Shyamalan, há que confessar), mas o McChicken fá-lo ser o pior desta improvável trilogia.
Título: Glass
Realizador: M. Nighht Shyamalan
Ano: 2019