| CRÍTICAS | O Caça Polícias – Axel Foley

A carreira de Eddie Murphy é capaz de ser uma das mais peculiares do cinema. Nos anos 80, Murphy era uma das maiores estrelas do firmamento de Hollywood, transformando em ouro tudo o que tocava; depois, os filmes começaram a piorar exponencialmente, até que uma série de desastres épicos nos anos 90 o afastaram da ribalta. Eddie Murphy teve o bom senso de perceber que a sua fase tinha passado e afastou-se graciosa, mas não totalmente, aproveitando o crédito amealhado e divertindo-se de quando em vez, fazendo um file ou outro que, por qualquer motivo mais ou menos pessoal lhe interessava particularmente.

Mas Eddie Murphy não resistiu às ondas de nostalgia que têm assolado Hollywood e cedeu à tentação desse flagelo que são as sequelas de fenómenos de décadas atrás. Assim, depois de O Príncipe Volta a Nova Iorque, é a vez do quarto tomo de O Caça Polícias, a série que, em 1984, quando surgiu o filme inaugural, fez de Eddie Murphy Eddie Murphy – e, tal como O Príncipe Volta a Nova Iorque, também O Caça Polícias – Axel Foley é lançado por uma plataforma de streaming, provando que, muito provavelmente, não o tempo de Eddie Murphy já passou, como o timing desta sequela está totalmente ultrapassado. Portanto, O Caça Polícias – Axel Foley tinha tudo para correr mal.

Eddie Murphy, que teima em recusar envelhecer (até há uma piada no filme, muito meta, sobre isso mesmo, em que o próprio fora com a aparência de Judge Reinhold em comparação com a sua), continua a ser um polícia pouco ortodoxo nos métodos que empresa, seguindo as suas próprias regras para desespero do chefe. Por isso, após a perseguição inicial a uns bandidos num limpa-neve, que destrói metade da frota automóvel de Detroit, Eddie Murphy é chamado ao gabinete do seu superior aos berros, de tal forma que pensamos que O Caça Polícias – Axel Foley vai ser uma paródia do tipo O Último Grande Herói, gozando com os seus próprios clichés.

Só que não. Quer dizer, não só O Caça Polícias – Axel Foley repisa todos os lugares-comuns do filme de polícias e ladrões dos anos 80, como ainda o faz com orgulho, ostentando-os como medalhas de honra. Estão lá todos, não falta um, do capitão aos gritos até ao herói que é baleado no ombro na cena final, em que dá o corpo como escudo, para sofrer um bocadinho, mas todos sabendo que vai sobreviver depois de um período de recobro no hospital. Só falta mesmo uma pala no olho do vilão Kevin Bacon, um polícia corrupto com suborno escrito em todas as partes do corpo. O Caça Polícias – Axel Foley é assim um filme datado, que tem noção disso, mas a única coisa que faz é tentar aproveitar-se dessa condição e explorar essa graçola meio meta do polícia fora do seu tempo (O Caça Polícias sempre foi sobre um polícia fora do seu ambiente), sendo esse um tempo em que as coisas raramente tinham consequências. No entanto, até nisso é extremamente curto, limitando-se a uma psicologia de algibeira com a filha que não via há muito (Taylour Paige), que é resumida a uma piada sobre terapia, e a um momento em que faz pouco dos carros eléctricos. Ok, boomer.

A trama de O Caça Polícias – Axel Foley parece então ter sido gerada por inteligência artificial, utilizando como molde todos os episódios anteriores da série e os cops and robbers movies dos 80s. Eddie Murphy continua a ser polícia em Detroit e tem que regressar a Beverly Hills para resolver um caso que está a deixar em apuros a sua filha advogada e o antigo colega, Paul Reiser. São ainda enfiadas à força antigas caras conhecidas, incluindo Bronson Pinchot, que em 2024, com todos os seus maneirismos e sotaques é só… como é que diz a malta jovem, cringe?

Há então a tal perseguição de limpa-neve e mais outra de helicóptero, que servem para cumprir as quotas de sequências de acção, Joseph Gordon-Levitt traz sangue novo à série e, claro, a theme song de Harold Faltermeyer está por todo o lado, procurando despertar e nós o factor nostalgia, qual cão de Pavlov. O Caça Polícias 3 já tinha sido a pior sequela das então três e o próprio Eddie Murphy renegou-o, em desacordo com o realizador John Landis. Mas comparado com esta Hamburga de Choco, esse até parece um filme do Godard.

Título: Beverly Hills Cop – Axel F
Realizador: Mark Molloy
Ano: 2024

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