2021 manteve as tendências de 2020 (e de 2019, já agora): muitos filmes de super-heróis (e a discussão interminável se podemos considerar isto cinema ou não), muita discussão sobre o streaming e a sala tradicional e, claro, a pandemia e todas as suas metáforas. Mas foi também o ano em que a representatividade das minorias esteve mais presente do que nunca, que Jane Campion foi reabilitada de vez (sucedendo à reabilitação de Paul Verhoeven) e deixou de ser a única mulher premiada com a Palma d’Ouro e que Nicolas Cage continua a divertir-se mais com isto do que nós todos juntos.
9º Lugar
Dune – Duna, de Denis Villeneuve
A nova adaptação de Dune, o clássico da literatura de ficção-científica de Frank Hebert, era um pau de dois bicos. Por um lado, todos queríamos uma nova versão mais alinhada com estes tempos de CGI e que nos fizesse esquecer a versão do David Lynch; por outro lado, todos sabíamos por experiência própria que esta coisa de expectativas elevadas costuma correr mal. Mas pronto, já que não podemos ter a versão de Alejandro Jodorowsky, ao menos que tenhamos a versão de Denis Villeneuve, o realizador que continua a ser obrigatoriamente contratualizado para fazer tudo o que seja filme de prestígio da actualidade.
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8º Lugar
Colectiv – Um Caso de Corrupção, de Alexander Nanau
Um dos grandes choques cinematográficos de 2021 foi o Oscar para melhor documentário. Como é que aquele filme em que um tipo se apaixona obsessivamente por um polvo ganhou a estatueta? Ainda para mais quando estava em competição este Colectiv – Um Caso de Corrupção, documentário sobre a corrupção sistémica da Roménia, a partir de um incêndio numa discoteca que, em 2015, matou 27 pessoas e deixou 180 feridos. A partir daí assiste-se a uma escalada de escândalos e revelações que nos deixam a todos boquiabertos, feito com grande discrição e um aprumo jornalístico que, actualmente, nem é fácil encontrar na comunicação social.
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7º Lugar
Cobiça, de Michael Winterbottom
Está na altura de pararmos de adorar ricaços que fazem fortuna à conta da exploração do trabalho alheio, esquecermos a treta do empreendedorismo e de enterrarmos de vez a treta da meritocracia. Cobiça é a sátira feroz a todos os empreendedores deste mundo, onde reconhecemos uma série de gente execrável (os Musks, os Bezos e os Ortegas desta vida), em formato mockumentário. Um Zelig do capitalismo, que infelizmente cai no poço do moralismo manhoso, mas que não deixa de ser um óptimo filme para quem acha que a Web Summit é a melhor cena desde a invenção do pão fatiado.
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6º Lugar
O Pai, de Florian Zeller
O Pai foi um dos destaques da última cerimónia dos Oscares e, por isso, é um daqueles casos que, ao aparecer nesta lista, aparece que já vem atrasado. As particularidades da agenda das estreias em Portugal… Aos 83 anos Anthony Hopkins atirou-se a um daqueles papelões que marcam uma carreira, ao interpretar um velhinho que está a ficar cheché. Tudo isso poderia ser mero Oscar bait se o realizador Florian Zeller não o fizesse a partir dos códigos do cinema de género, nomeadamente o suspense o thriller psicológico. Um filme extremamente inteligente na forma como ilustra essa falência mental do protagonista, com realidades temporais que se misturam e personagens que mudam de feições, sem sabermos qual a verdadeira e as falsas. Plot twist: todas são reais e todas são mentira.
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5º Lugar
Benedetta, de Paul Verhoeven
Paul Verhoeven foi durante muitos anos um dos nomes mais infames de Hollywood, até ter sido reabilitado há um par de anos em Cannes, especialmente graças a Ela. Agora, aos 83 anos, para nos provar que continua a ser o mesmo provocador, Verhoeven atira-nos uma granada para as mãos. Benedetta é um nunexploitation, que não foge ao formato do thriller erótico (que o holandês cultivou tão bem em Instinto Fatal), para nos falar de fé, feminismo, tensões sexuais e lesbianismo na igreja católica do século XVII.
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4º Lugar
A Lenda do Cavaleiro Verde, de David Lowery
O que A Lenda do Cavaleiro Verde veio confirmar nem sequer foi tanto o talento de David Lowery, mas antes a posição da A24 enquanto casa de um dos mais estimulantes cinemas da actualidade. Ora vejamos o que temos aqui: folclore arturiano altamente estilizado, que cruza linguagem antiga com planos de anúncio de perfume, música cheia de drones com ambientes atmosféricos e o sword and sorcery elevado a uma nova potência.
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3º Lugar
Ninguém, de Iliya Naishuller
Ninguém vai buscar um improvável protagonista de acção, Bob Odenkirk, e transforma-o no novo John Wick. Ninguém é um filme de porrada que segue a máxima keep it simple stupid, inflando-o com veneno no sangue para o tornar ainda mais estetizado do que um filme do Tarantino. Ninguém é o novo John Wick, mas com um twist. E ainda vai desempoeirar Cristopher Lloyd.
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2º Lugar
Annette, de Leos Carax
Leos Carax junta-se aos Sparks para fazer um musical com Adam Driver e Marion Cottilard. Olhamos para esta descrição e parece que alguém colocou vários nomes aleatórios num chapéu e os retirou por ordem para fazer Annette. E a verdade é que o resultado parece tão aleatório, quanto delicioso. Temos a música incrível dos manos Mael, temos uma marioneta a fazer de filha de Driver e Cotillard e um musical alternativo que marcou definitivamente o ano de 2021.
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1º Lugar
Titane, de Julia Ducournau
Podemos nem sempre ter a certeza do que estamos a ver em Titane, mas temos a certeza de que nunca nos vamos esquecer. Há body horror, há gore, há fluídos corporais, há sexo com automóveis, há o Crash transportado para todo um novo nível de loucura e há toda uma experiência-limite, que nem sempre é fácil de acompanhar. Titane é o filho ilegítimo que Cronenberg teve com Gaspar Noé e que se destacou como o melhor de 2021.
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